sábado, 15 de agosto de 2009

"O médico e o monstro"- Robert Louis Steverson

Essa é uma obra fantástica.
Escrita no século XIX, com os ecos dos ultra-românticos e byronianos, ela não se perde, no entanto, no trinômio amor-morte-decadência, tão caro às Mary Shelleys da vida e cia.
O tom do livro é sombrio, fato. Existe uma atmosfera de suspense forte, também, na história que contrapõe o famoso e respeitável médico com seu lado oculto de Mr. Hyde.
Hyde é sem dúvida uma alusão a "hide"-esconder. Esse Mr. Hyde, detestável, malévolo e horrível pode sem dúvida ser identificado como a materialização do inconsciente, em seus aspectos mais asquerosos. Steverson certamente não lêra Freud (que só viria muito depois) quando escreveu seu texto. Mas mostrou perceber a existência de desejos e faces cruéis dentro de cada um.
Curtinho, rápido e envolvente.
Mas cheio de reflexões.

Recomendo!

domingo, 26 de julho de 2009

"O vermelho e o negro" - Stendhal

Vermelho é uma referência à carreira militar. Negro; à eclesiástica. Isso quem me explicou foi papai (grande sábio)...
O livro conta a história de Julien Sorel, pequeno burguês da França nonocentista que, para subir na vida, decide ser padre.
Ocorre que no seu caminho surgem seguidamente duas mulheres: a sra. de Rênal e a srta. Mathilde de La Mole.
O livro é permeado pela mesquinhez de Julien, que objetiva majoritariamente o sucesso pessoal, e pelos delírios românticos das duas moças. Mas há reviravoltas, lances interessantíssimos e muito bonitos.
Não é possível não se emocionar com a história, também marcada por um estilo maravilhoso da escrita.
A contra-capa do romance dizia: "Um dos maiores romances de todos os tempos."
Romântico, de fato. Mas com alguns traços de realismo. De qualquer forma, concodo com a opinião do editor. Grande romance!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

"Notre Dame de Paris"- Victor Hugo

Nunca ouviram falar desse livro? Bem, eu também não sabia que se chamava assim. A tradução para o português do título foi "O Corcunda de Notre Dame". Meu pai me explicou, antes de eu sequer enconstar em uma página da obra, que esse transporte lingüístico foi um erro crasso. Victor Hugo não escreveu sobre o corcunda. Nem sobre a Esmeralda. Ele escreveu sobre a catedral, símbolo romântico do medievalismo da Paris do século XVIII.
Confesso que passei da metade do volume e só. A história é dinâmica e envolvente, se excluirmos as chatésimas descrições imensas da catedral. Ocorre que o exagero romântico escorre de tal forma que se torna, como dizia o caro Eça, "uma maçada" prosseguir a leitura.
São sempre as mesmas coincidências mirabolantes, as aventuras ingênuas, as personagens irreais. Ao mesmo tempo, um quê sombrio e romanticamente triste vaga alguns capítulos, como se fosse um rastro de "Os miseráveis" em páginas alheias.
Honestamente, eu não perderia meu tempo lendo mais de 500 páginas para conhecer esse drama parisiense. Legal, talvez, literariamente muito importante, sem dúvida. Mas acho que esse livro é datado demais. Hoje, seria "uma maçada".

sábado, 18 de julho de 2009

"Os irmãos Karamázov"- Fiódor Dostoiévski-V.2

Tal é a proporção dessa obra, que se torna difícil falar dela. Dostoiévski parece contagiar o leitor com o desequilíbrio de suas personagens, dando-nos a confusão de suas falas, o turbilhão de suas idéias e seus delírios. O que dizer dos Karamázov? O que dizer do seu meundo, desse pedacinho aldeiota perdido na imensidão russa? A peroração se tornaria excessiva se tentássemos destrinchar, ainda que superficialmente, o grandes temas do livro. Mas como não se emocionar com a leitura? Como não viver o conflito moral-erudito-acadêmico-religioso de Iván o irmão do meio? Como deixar de sorrir com a ternura cândida de Aliócha? E como abandonar Mítia sem sentir por ele compaixão, sem sofrer seus dramas, sem nutrir-lhe a um só tempo raiva e amor? A todo momento queremos ver nossas personagens, sacudi-las, falar-lhes, espancar-lhes. Os Karamázov são nossos filhos, nossos maridos, nossos irmãos. Através deles vemos um mundo que nos é inteiramente estranho mas impressionantemente nosso. Amei Cátia e Grucha, amei-as por Iván e Dmitri, seus amantes. Amei a Cristo e ao stárietz por Aliócha. Amei a Rússia por todos eles. Sobre o que será que Dostoiévski queria nos falar? Talvez ninguém nunca venha a saber. O caso da vila russa poderia ser relatado num jornal, como noticia. Mas ele nos é apresentado num requinte assutadoramente humano, terrivelmente real. Sobre quem é a obra? Mítia? Iván? Aliócha? Ou sobre todos nós? Não sei responder. E prefiro que assim seja. Por hora, agradeço por permanecer febril desse fascinante mundo.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Literatura e povos

Estava pensando aqui com meus botões e decidi escrever esse pequeno ensaio. Como sempre, não tenho pretensão de fazer às vezes de crítica literária, mas vou deixar minhas reflexões pra vocês pensarem junto comigo também...
Já falei aqui de Dostoiévski e Górki, o que deixa bastante claro que gosto de literatura russa. Li alguns livros e textos de autores contemporâneos e também do Chekov e do Tolstói. Não tive tempo de comentar tudo aqui, mas percebi uma coisa bastante interessante: os textos literários russos são, em geral, bastante...sombrios. Existem alguns elementos que de alguma formam sempre rasgam as páginas dos livros da Rússia, aparecendo mais ou menos conforme a história. O leitor parece ter a impressão de conviver com personagens bastante carregados, sofridos, densos e reina uma atmosfera social um tanto quanto cinza. Ao mesmo tempo, os indícios do misticismo mesclado à religiosidade são claros. Há ícones misturados com simpatias, rituais ortodoxos junto à bruxarias populares, tudo numa harmonia inquieta mas coerente.
Em nenhuma outra literatura com que tive contato (a saber, a inglesa, a francesa, a portuguesa e a brasileira) essas constantes, esss marcas do povo, parecem estar tão firmes, tão nítidas e bem delineadas. É como se as obras russas fossem esponjas mais capazes de absorver os traços do homem russo e seus problemas com muito mais facilidade.
Claro, literatura não se faz isolada do contexto. É evidente que mesmo em obras de total ficção maluca a gente consegue encontrar um ou outro traço do povo da época. Mas o que me espanta nos russos é que isso é muito mais nítido, muito mais visível...
E eu presumo que isso seja resultado da grande força com que a História pressionou o povo russo: governos mal-sucedidos, guerras e disputas territoriais, grande mistura étnica que muitas vezes não foi bem recebida e uma revolução impactante devem ter marcado bastante a Rússia. A literatura deve ter sentido o peso de uma História tão forte.

domingo, 25 de janeiro de 2009

"As ligações perigosas" - Choderlos de Laclos

Eu vou roubar as palavras do comentário da minha edição.
Este é um livro "diabólico". E, sem dúvida, não há melhor palavra para isso.
Eu me interessei pela obra quando assisti a um pedaço de uma das adaptações para o cinema, que passava na TV.
A história se passa no fim do século XVIII e seus personagens são membros da aristocracia francesa. O filete central são as maquinações de um visconde e de uma marquesa para, por vingança, lazer ou crueldade, arruinar vidas alheias. Evidentemente, tal trama está fadada a gerar no leitor uma indignação gigantesca e deliciosa.
Outra coisa bem interessante é o formato do livro. Não há narrador, e as personagens contam os acontecimentos por meio de 175 cartas que trocam entre si. As melhores são as da marquesa para o visconde e vice-versa, onde se vê um veneno que eu não acho que possa existir em um ser humano.
A leitura é um pouco maçante, mas a obra é certamente genial.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

"Romance da Pedra do Reino e do Príncipe do Sangue do Vai e Volta"- Ariano Suassuna

Bem, acho que o título está correto. É muito grande e difícil de lembrar, sabe? Mas prometo conferir assim que tiver o livro em mãoes.

Eu confesso que faltaram umas duzentas páginas pra terminar a obra, e infelizmente ainda não tive tempo de concluir a leitura. Considerando, contudo, que o livro tem mais de seiscentas páginas, acho que já posso fazer alguns comentários por aqui.

Acho que esta foi a leitura mais maluca que já fiz na vida. Maluca, mesmo. O romance é, nas palavras de Drmmond, um folhetim-epopéia, cordel e mil e uma outras coisas.
Sobre o que é?
Bom, trata-se da história de Quaderna, um sertanejo da Paraíba que, dizendo-se herdeiro do trono da Pedra do Reino, dispõe-se a procurar o seu reino e reivindicar a coroa. Tudo isso, que se passa lá pelos anos 30, acaba por levá-lo à prisão, acusado de subversão.

Além da crítica ao Estado Novo de Vargas e da saga do Quaderna, o livro também registra uma série de causos e costumes sertanejos, o que é bastante interessante.

A obra rende boas risadas, mas deve ser lida com todos os neurônios que estiverem disponíveis, já que se perder no palavreado requentado do Quaderna é fácil, fácil.

É um livro difícil e pesadão, mas vale uma leitura pela maluquice e criatividade geral.

Prometo que, assim que eu tiver paciência, termino.

"Os irmãos Karamázov"-volume 1 - Fiódor Dostoiévski

Antes de tudo, peço desculpas por não ter postado aqui por muito tempo. Também agradeço aos adoráveis internautas que tiveram a bondade de visitar meu humilde blog. Não sabem como me sinto lisonjeada. Sei que há um problema para a postagem de comentários. Já tentei de tudo para resolvê-lo, e pretendo enviar uma mensagem ao blogspot se não tiver outra saída. Caso eu não consiga mudar a situação, devo mudar o endereço do blog, postando aqui uma mensagem de aviso.

Obrigada!

Enfim, tive o imenso prazer de adquirir a última edição da obra de Dostoiévski, que é também a primeira tradução direta do russo para o português. 
Confesso que fiquei bastante impressionada com o estilo do escritor. Embora antigo, não é nem um pouco maçante, sendo uma leitura bastante agradável e empolgante. Há partes em que o autor desenvolve, através das personagens, uma série de reflexões de natureza religiosa ou política, e mesmo isso é bastante bonito e envolvente.

Adorei as personagens centrais, os irmãos Karamázov e o terrível patriarca da família, Fiódor Pávlovitch. Os três irmãos são nem um pouco parecidos, possuindo entidades opostas e fascinantes. Mas eu concordo com os críticos que dizem que Fiódor é na certa um dos melhores personagens da obra. Na descrição do Dostoiévski, trata-se de lascivo  um da mais baixo estirpe, um verdadeiro patife no mais completo sentido. Mas a riqueza das descrições que o escritor faz deste homem detestável e de suas ações vis tornam Fiódor um ponto alto do livro.

Também vale a pena a leitura pelo belíssimo painel da religiosidade ortodoxa, em que cabe ressaltar o papel de Aliócha (o irmão mais ovo, protagonista da obra) e do stárietz, monge que lhe serve de "tutor".  Os diálogos em que participam esses dois mostram um mundo a dois tempos próximo e distante da realidade cristã católica ou luterana. As reflexões morais, contudo, são lindamente universais e comoventes.

Mal posso esperar para ler o próximo volume e outros livros do autor!


Observação: seria injustiça não comentar a maravilhosa edição recente, que além de ter um trabalho gráfico de primeira é enriquecida com belíssimas ilustrações. Até como enfeite a obra vale!

sábado, 3 de janeiro de 2009

"Agosto"- Rubem Fonseca.

Livro bastante violento.
Do começo ao fim.

Peguei-o porque me interesso bastante pela década de 50, que na minha opinião foi a mais emocionante na história do Brasil.

A ambientação de "Agosto" é muito legal, e dá para se sentir nas ruas do Rio daquele tempo.

Uma história policial serve de fio condutor, e é curioso porque o leitor acompanha os criminosos e o investigador em todas as suas ações, sabendo, desde o começo, qual é a história verdadeira. Não decidi ainda se isso é muito emocionante, mas é um traço peculiar.

No geral, a obra peca pelo excesso de apelação violenta. A maioria das passagens com cenas sangrentas é "expressionista", "feia", e por isso não é lá uma leitura muito light.

A ambientação, contudo, é interessante.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

"Orgulho e Preconceito"- Jane Austen

O mais fascinante de Jane Austen não é a história em si, já que as fábulas chegam até a ser simples e bobinhas. O melhor mesmo são os diálogos, o estilo da narrativas e as ironias cômicas da autora.

"Orgulho e Preconceito" é muito engraçado, em grande parte devido ao retrato da família Bennet, que é extremamente ridícula. Dei boas risadas com a mãe das meninas, Mr. Collins, Kity, Lidia e Mary.

Por outro lado, a irmã mais velha Jane e seu romance com Mr. Bingley formam um quadro bastante comovente e realista, que enriquece bastante a obra.

A cereja do bolo é sem dúvida, o romance entre as personagens mais emblemáticas (Elizabeth e Mr. Darcy). Sendo os dois extremamente inteligentes, fica difícil para o leitor decidir quem está certo ou não, e essa confusa só se resolve com o cativante fim do romance.

Li "Pride and Prejudice" mais de uma vez. E, a cada leitura, tive a mesma sensação de inquietação e suspense até o fim do livro.

Clássico, de fato. E excelente.

 
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