sábado, 15 de agosto de 2009

"O médico e o monstro"- Robert Louis Steverson

Essa é uma obra fantástica.
Escrita no século XIX, com os ecos dos ultra-românticos e byronianos, ela não se perde, no entanto, no trinômio amor-morte-decadência, tão caro às Mary Shelleys da vida e cia.
O tom do livro é sombrio, fato. Existe uma atmosfera de suspense forte, também, na história que contrapõe o famoso e respeitável médico com seu lado oculto de Mr. Hyde.
Hyde é sem dúvida uma alusão a "hide"-esconder. Esse Mr. Hyde, detestável, malévolo e horrível pode sem dúvida ser identificado como a materialização do inconsciente, em seus aspectos mais asquerosos. Steverson certamente não lêra Freud (que só viria muito depois) quando escreveu seu texto. Mas mostrou perceber a existência de desejos e faces cruéis dentro de cada um.
Curtinho, rápido e envolvente.
Mas cheio de reflexões.

Recomendo!

4 comentários:

Unknown disse...

Eeeeeebaaaaa!! Obrigado Ana, mais um livro que vc comentou que eu posso comentar também! ;P
Eu gostei bastante do livro quando li, achei que ele prende a atenção e não é um livro chato de ler, eu até que consegui ler ele rapidinho. Eu gosto de ler seus comentários, são muito inteligentes, não sei da onde vc tira tudo isso! fico realmente muito impressionado. O legal é que também acabo aprendendo alguma coisa com você e isso vai agregando com minhas idéias que eu já tinha sobre a obra. Me dá um novo ponto de vista ou mesmo até fazendo com que eu perceba algo que não tinha notado ou que não tinha entendido direito.
Concordo com você que o livro sombrio, dá um tom daqueles filmes de suspense antigos, da década de 60. O tchans da obra, geralmente ocorre com uma narrativa durante o período noturno e se não me engano, na própria casa do Sr. Hyde. É tudo muito misterioso, me deu um arrepio na espinha como se estivesse assistindo o exorcista. Bom, na minha interpretação realmente compartilho com você do fato de Hyde representar os desejos ocultos e do insconsciente da mente humana, o que é bem sutilmente posto durante as descrições do "monstro" e pelo seu próprio nome, como você comentou. Mas eu vejo também que Hyde ao se mostrar como um ser malévolo e detestável em todos os sentidos, sendo um ser maligno acredito que o que o doutor conseguiu separar esta dualidade do conflito existente entre o bem x mal, que é um tema muito carimbado em discussões filosóficas e psicológicas. Hyde representa o mal, puro e somente. Ele não possui remorso, ele tem aparência feia. Enquanto que o médico está preso em conflito entre o bem e o mal, é o Hyde em conflito com a parte boa da qual ele compartilha um mesmo corpo. Como os seres adrógenos, que na mitologia eram um ser que podiam ser ambos homem-homem; homem-muher; ou mulher-mulher, e que possuiam enormes poderes, mas que foram castigados por Zeus ao tentarem tomar conta do Olimpo. Seu castigo foi separá-los e colocá-los em lados opostos do globo terrestre e ficarem vagando eternamente, em sofrimento, procurando um dia conseguirem encontrar sua outra metade, a parte de (a)os completa, sua alma gêmea... acho que daí vem a história da alma gêmea, pessoas que tentam encontrar a pessoa que as completa, que vai fazer com que elas voltem a ser um todo, e não mais partes... A maioria das pessoas nunca vai encontrar sua alma gêmea... acho que são raras as que realmente encontram...
Desculpa.. já passou..
Voltando à discussão, fazendo uma ponte com essa história que contei sem querer, num breve momento de tristeza, acho que se a obra mostra exatamente o oposto, que ser o médico parece ser uma coisa ruim, um castigo, porque vc está sempre em conflito com o bem e o mal, enquanto o Hyde, sendo pura maldade não mostra sofrimento nenhum apesar d e sua aparência, ouso dizer que ele parece ser mais feliz e perfeito que o médico, uma vez que ele é um ser puro, de pura maldade, assim como poderíamos ter um ser de pura bondade...
Acho que é isso por hora... não me vem mais nada à mente.
Bom, eu peço desculpas à você se eu acabei comentando mais do que devia ou até mesmo comentando coisas desnecessárias...

Eu também recomendo!!!

Cidade dos Livros disse...

Boa tarde! Durante o fim de semana li o seu blog e gostei muito. Tenho um blog com o mesmo intento, comentar sobre os livros lidos, comecei a pouco e como vejo que você esta fazendo um trabalho legal gostaria de umas dicas. Nosso estilo literário parece ser um pouco diferente mas o mais importante com certeza é a leitura. Meu blog é www.cidadedoslivros.blogspot.com. Aguardo sua avaliação. Abraço

Ana Garcia disse...

É um grande prazer comentar livros contigo, Jony!
Adoro suas opiniões e impressões, que me ajudam bastante na forma como encaro a literatura.
Nunca tinha pensado nessa diferença de resolução pessoal entre Hyde e o médico. Em verdade, isso tudo faz muito sentido: o inconsciente é firme, seguro de si, decidido. Tem intenções de desejos simples e claros. Nossa consciência, por outro lado, administra constantemente valores, crença e vontades. Vivemos sempre em busca da razão, e por isso numa grande corda bamba. Acho que Steverson foi ainda mais brilhante do que eu tinha imaginado!!
Já tinha ouvido falar dos andrógenos (num livro de filosofia), e a maneira como você pescou essa conexão me surpreendeu. De fato, a união amorosa é um processo conflitivo, já que se juntam dois seres diferentes, sem que se estabeleça o puro. Poderíamos dizer que o indivíduo deve buscar a plenitude em si mesmo, onde existe só pureza?
Sinceramente, acho que é parte da nossa natureza a necessidade de conflitar, sofrer, questionar e se contradizer. "É impossível ser feliz sozinho" porque todos nós precisamos de desafios.
E talvez o maior desafio seja o conflito das relações.

Será que não foi isso que Steverson quis dizer? A pureza (Hyde) gera um ser encimesmado, individualista, exclusivista, mau esozinho. O conflito e a dualidade (o médico) produzem um homem que,com todos os defeitos, ainda assim é bom.

Todos nós sofremos. Mas acho que só nos encontramos perfeitamente quando em conflito com terceiros.


Muito obrigada pela leitura e pelo belíssimo comentário!
Grande beijo!

Unknown disse...

Oi Ana, adoro discutir com você sobre isso também! Agrega muito pra mim
conhecer a opinião de alguém com um conhecimento tão grande quanto o seu,
de verdade.
Fiquei muito feliz de ter contribuído um pouco mais com um ponto de vista
diferente.
Concordo com você que a união amorosa sempre irá se dar com dois
seres diferentes e cada um com uma subjetividade própria. Acredito que
parte da beleza de duas pessoas se juntarem e se entregarem ao amor se
encontra nesta diferença e neste conflito, nesta oposição entre os seres
que acaba trazendo o equilíbrio para ambas. Acho que deve ser um cliché,
mas citarei da mesma forma, assim como o bem não existe sem o mal e
vice-versa, são coisas dependentes que juntos se completam e possuem uma
"harmonia", que não precisa ser necessariamente pacífica ou maléfica, mas
há um equilíbrio entre elas, assim como o Ying e Yang, ou então mesmo
como nas idéias do Matrix, que eu vejo que na minha interpretação, pelo menos,
o Neo sendo um agente do bem, tão poderoso que no fim do primeiro filme
mostrou que não existia adversários à sua altura, ao longo das outras duas
longas do filme, foi-se criando um adversário tão poderoso quanto ele, o
agente Smith, que desta forma conseguiu conter a propagação do bem. Ao final
do último filme mostra o choque entre eles e ambos acabam derrotados. Legal
ver que quando Smith consegue derrotar o Neo e a Matrix inteira está
dominada pelo Smith, ele acaba se autodestruindo, deixando de existir. Acho
que este final mostra bem que um não existe sem o outro.
Bom, mas o que eu queria mostrar era que essa oposição é o que atraí as
pessoas, as fazem a ficar mais próximas uma das outras. Mas no mito do
andrógeno, acredito que ocorre o contrário, são dois seres iguais, puros
que compartilhavam um mesmo corpo, e no caso deles para serem completos
precisavam se encontrar novamente ao serem separados. Acho que este mito
é bem romântico, acredito e aceito parte dele.
Acho que vc fez um comentário pertinente ao dizer que Hyde sendo um ser
puro é um ser encimesmado, individualista, exclusivo, mau e solitário.
Condiz com os próprios andrógenos que sendo completos e poderosos, puros
queriam tomar o Olimpo dos Deuses. Um ser como o médico, quevive em conflito
dentro de si mesmo consegue ter um equilíbrio maior, apesar de não parecer,
parece até contraditório dizer que o conflito traz equilíbrio, mas acredito
que é isso que acontece. E afinal, se todos nós fóssemos bons, não tivéssemos
nenhuma maldade em nós mesmos, não seríamos humanos, mas sim anjos. O mesmo
vale para o inverso. Quem sabe um dia não encontramos a pessoa que nos
completa, que nos dá maior equilíbrio na vida e nos faz completos para que
possamos sublimar para um estágio superior de emancipação de nossas almas.
Como dizem, as vezes a felicidade está aí do lado, mas não enxergamos..

Bom, é isso. Escrevi bastante de novo e viajei demais... não tenho certeza
se você curtiu muito minha comparação com Matrix, mas foi o que me veio
na cabeça na hora e acabei escrevendo, prefiro escrever assim, acho que
o texto fica mais verdadeiro e com as impressões verdadeiras que tenho.

Muito bom comentário o seu também! Adorei ele!! Você é demais!!

beijos

 
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