segunda-feira, 29 de junho de 2009

Literatura e povos

Estava pensando aqui com meus botões e decidi escrever esse pequeno ensaio. Como sempre, não tenho pretensão de fazer às vezes de crítica literária, mas vou deixar minhas reflexões pra vocês pensarem junto comigo também...
Já falei aqui de Dostoiévski e Górki, o que deixa bastante claro que gosto de literatura russa. Li alguns livros e textos de autores contemporâneos e também do Chekov e do Tolstói. Não tive tempo de comentar tudo aqui, mas percebi uma coisa bastante interessante: os textos literários russos são, em geral, bastante...sombrios. Existem alguns elementos que de alguma formam sempre rasgam as páginas dos livros da Rússia, aparecendo mais ou menos conforme a história. O leitor parece ter a impressão de conviver com personagens bastante carregados, sofridos, densos e reina uma atmosfera social um tanto quanto cinza. Ao mesmo tempo, os indícios do misticismo mesclado à religiosidade são claros. Há ícones misturados com simpatias, rituais ortodoxos junto à bruxarias populares, tudo numa harmonia inquieta mas coerente.
Em nenhuma outra literatura com que tive contato (a saber, a inglesa, a francesa, a portuguesa e a brasileira) essas constantes, esss marcas do povo, parecem estar tão firmes, tão nítidas e bem delineadas. É como se as obras russas fossem esponjas mais capazes de absorver os traços do homem russo e seus problemas com muito mais facilidade.
Claro, literatura não se faz isolada do contexto. É evidente que mesmo em obras de total ficção maluca a gente consegue encontrar um ou outro traço do povo da época. Mas o que me espanta nos russos é que isso é muito mais nítido, muito mais visível...
E eu presumo que isso seja resultado da grande força com que a História pressionou o povo russo: governos mal-sucedidos, guerras e disputas territoriais, grande mistura étnica que muitas vezes não foi bem recebida e uma revolução impactante devem ter marcado bastante a Rússia. A literatura deve ter sentido o peso de uma História tão forte.

6 comentários:

Unknown disse...

Achei muito legal o texto escrito por você. Não posso ratificar com tamanha propriedade de conhecedor da literatura russa como você, mas acredito que o que você aí escreveu é bem verdadeiro e faz sentido. Não conheço muito a literatura russa, nem muitos de seus autores e nem mesmo li muitos livros deles. Para dizer a verdade creio que apenas li obras de Dostoiévski (o Idiota, o Jogador) tenho mais alguns livros dele para ler mas ainda não os li infelizmente. Realmente pelos dois livros que li de um único autor pude perceber estas caractrísticas as quais você menciona, sobre os ambientes sombrios, as épocas de conflitos políticos e de guerras. Muitos dos diálogos das personagens remetem a acontecimentos reais da época ou da história russa e a riqueza de detalhes com que é contada é muito chamativa, porém, as vezes acho que a leitura fica um pouco truncada e não flui muito, sei lá...só a opinião de um leigo...
Na obra o Jogador, acho que o livro tem um tom mais suave e menos dramático que algumas obras dele, que apesar de não os ter lido acredito que alguns deles sejam mais mórbidos e dramáticos. Acho que por isso que eu consigui lê-lo em um espaço de tempo mais hábil e foi menos cansativo, claro que o livro é bem menor que O Idiota... muuuuuuito menor.
Na Rússia ao que me parece pelo que você comentou pensando com seus botões, que a literatura deve ter sido a maior forma de expressão de uma sociedade, que passou por uma história conturbada durante os séculos e sua formação, tanto no plano econômico como no político. Realmente acredito que a literatura através da escrita é realmente uma das formas mais bonitas, atraentes e ricas formas de expressão dos anseios de um povo e uma maneira também de contar a sua história, deixando um legado para as gerações seguintes não apenas russas mas para todos os Homens.
Viajei???
Jony
Du müsstest ein schreiber sein ;)

Ana Garcia disse...

Jonyyyyy


Não, não viajou, nem um pouco!

Concordo com o que vc disse...Dostoiévski é meio truncado, e "O Jogador" é mesmo mais leve. Pessoalmente, não acho que esse seja um bom livro...Acho bastante comum, mas é legal conhecer!


Vielen danke por me ler e fazer um comentário pertiente!

A intenção do blog é essa, fiquei muuuuuuuuuuuuuito feliz!!

Grande bjo

Unknown disse...

Hmmmmm... não sei... eu vejo de uma outra maneira. Realmente, o Jogador quando eu li ele é como se fosse um livro "comum" qeu eu costumo ler muitas vezes, é bem mais fácil de ler e acabei rapidinho. Tirando os nomes estranhos e difíceis de se pronunciar do russo, creio que se passa como qualquer outro livro mais comum. Mas não é legal que um escritor como ele que escreve livros muito profundos e detalhados, mais "sérios" digamos assim, que ele ainda possa escrever uma obra como o Jogador, que aparentemente parece mais fútil mas que eu acho que tem algo por trás dela, tem algum significado maior pela mudança do estilo de contar a história. Eu achei ele, se não me engano e se me lembro bem, até um pouco engraçado. Acho que no fundo ele estava fazendo uma crítica à alguma característica da sociedade com a qual ele repudiava e que o livro seria mais ou menos uma sátira.
tá certo isso??? é que acho que não me lembro muito bem do livro... sorryyyyyy...

Ah, magina, fico aliviado de as vezes poder conversar com alguem sobre isso :) ninguem entende os livros que eu leio... pessoal sempre me zoa por alguns que eu leio hehehhe

quando vc colocar alguma outra coisa que eu já li eu comento, pq o resto que vc colocou aí, não tenho idéia do que seja... hahahaha

Ana Garcia disse...

Jony, acho que vale a pena comentar "O jogador". Seria um post interessante.
A obra é crítica, como você mencionou, e bastante satírica.
O Dostoiévski era um cara bem russo, bastante patriota, e vivia numa época em que russo chique era russo parisiense.
Em "O jogador" ele critica pesadamente os russos que se desnacionalizam, esquecem a identidade e acabam adotando grotescamente costumes que não são seus. A história, exagerada e com ecos românticos em alguns pontos, procura ilustrar justamente isso.
Por um lado, é uma obra interessante. Mas, como você mencionou, é estranho ver um escritor tão forte e grande rabiscar essas linhas mais lights...

Unknown disse...

Aguardarei suas impressões da obra. =)

paulo thadeu disse...

Cara Ana, aqui é o Paulo Thadeu, colega e amigo da tua mãe e do teu pai. Escrevo para dizer que gostei bastante da tua iniciativa. Indico para leitura os diários da Susan Sontag, publicados em forma de livro por seu filho, e nos quais a escritora anotava suas impressões sobre os livros que lia. Um abraço, Pthadeu.

 
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