quarta-feira, 6 de julho de 2011

As brasas-Sándor Márai

No dia das mães do ano passado, dei de presente para minha mãe um livro chamado “De verdade”, de um escritor húngaro, o Sándor Márai. Minha mãe estava com ele pela metade na escrivaninha quando agarrei-o para lê-lo. Apaixonei-me, mas não só pelo livro, e sim também pelo escritor.

Sobre o “De verdade” faço um post depois, mas sobre o Sándor começo a falar nesse texto aqui. O Sándor foi um escritor húngaro que fez muito sucesso na Hungria no começo do século, principalmente no período entre guerras. Ele era jornalista de profissão, mas escreveu muitos (e muitos mesmos) romances.

Já li bastante coisa, e realmente achei esse sujeito especial. A prosa é comovente, quase lírica, bonita. Os enredos são apaixonantes, as personagens bastante fortes. É algo agradabilíssimo de ler.

“As brasas” é uma obra ambientada no Império Austro-Húngaro no fim do século XIX. Trata-se de um diálogo entre dois antigos amigos sobre um incidente do passado que mudou a vida dos dois. O enredo é bem claro na voz das personagens que dialogam sobre os fatos, mas para o leitor sobram dúvidas estilo “Dom Casmurro”. Fora isso, há frases belíssimas e pensamentos intrigantes que enriquecem o texto.

 

Superrecomendo!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Conan Doyle e seus sempre bem vindos Sherlocks da vida

Fui só eu que achou sensacional o filme do Sherlock Holmes?
Acho que sim, né? Tantas críticas tomou na cabeça, coitado...
Mas, honestamente,curti demais. Acho que a proposta era usar o Sherlock e o Dr. Watson meio que como personagens modelos para uma história inventada, baseada, é claro, no estilo do Conan Doyle.

Será que vou tomar paulada por essa?

Deixemos o tópico apenas como introdução, hehe. Adoro romances policiais. Acho extremamente divertidos, bastante gostosos e agradáveis de ler e, quando bem feitos, bastante produtivos.
Talvez o Conan Doyle não seja MESMO a leitura mais culta que existe na literatura inglesa, mas certamente é algo imperdível. Primeiro, as personagens são absolutamente sensacionais. O Sherlock dedutivo, inteligente, mas ao mesmo tempo ativo e ágil é fascinante. Adoro também as pitoresquices dele (violino, drogas, e afins, hehe). São mesmo uma afronta à imagem do "gentleman" inglês. O Watson, por outro lado, vale pra mim como excelente observador e estereótipo do ex-militar "certinho", hehe.

Para além disso, acho as deduções sensacionais. São mesmo muito empíricas, bastante interessantes. Não acho tão implausíveis, sabe? E como vão acontecendo no correr do livro, não deixam o leitor tanto no "escuro" quanto os romances do Poirot, que só se revelam no gran-finale...

Meu preferido? O cão dos Baskerville. Mas não acho que seja possível fazer uma resenha sem correr o risco de estragar o mistério!

sábado, 15 de agosto de 2009

"O médico e o monstro"- Robert Louis Steverson

Essa é uma obra fantástica.
Escrita no século XIX, com os ecos dos ultra-românticos e byronianos, ela não se perde, no entanto, no trinômio amor-morte-decadência, tão caro às Mary Shelleys da vida e cia.
O tom do livro é sombrio, fato. Existe uma atmosfera de suspense forte, também, na história que contrapõe o famoso e respeitável médico com seu lado oculto de Mr. Hyde.
Hyde é sem dúvida uma alusão a "hide"-esconder. Esse Mr. Hyde, detestável, malévolo e horrível pode sem dúvida ser identificado como a materialização do inconsciente, em seus aspectos mais asquerosos. Steverson certamente não lêra Freud (que só viria muito depois) quando escreveu seu texto. Mas mostrou perceber a existência de desejos e faces cruéis dentro de cada um.
Curtinho, rápido e envolvente.
Mas cheio de reflexões.

Recomendo!

domingo, 26 de julho de 2009

"O vermelho e o negro" - Stendhal

Vermelho é uma referência à carreira militar. Negro; à eclesiástica. Isso quem me explicou foi papai (grande sábio)...
O livro conta a história de Julien Sorel, pequeno burguês da França nonocentista que, para subir na vida, decide ser padre.
Ocorre que no seu caminho surgem seguidamente duas mulheres: a sra. de Rênal e a srta. Mathilde de La Mole.
O livro é permeado pela mesquinhez de Julien, que objetiva majoritariamente o sucesso pessoal, e pelos delírios românticos das duas moças. Mas há reviravoltas, lances interessantíssimos e muito bonitos.
Não é possível não se emocionar com a história, também marcada por um estilo maravilhoso da escrita.
A contra-capa do romance dizia: "Um dos maiores romances de todos os tempos."
Romântico, de fato. Mas com alguns traços de realismo. De qualquer forma, concodo com a opinião do editor. Grande romance!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

"Notre Dame de Paris"- Victor Hugo

Nunca ouviram falar desse livro? Bem, eu também não sabia que se chamava assim. A tradução para o português do título foi "O Corcunda de Notre Dame". Meu pai me explicou, antes de eu sequer enconstar em uma página da obra, que esse transporte lingüístico foi um erro crasso. Victor Hugo não escreveu sobre o corcunda. Nem sobre a Esmeralda. Ele escreveu sobre a catedral, símbolo romântico do medievalismo da Paris do século XVIII.
Confesso que passei da metade do volume e só. A história é dinâmica e envolvente, se excluirmos as chatésimas descrições imensas da catedral. Ocorre que o exagero romântico escorre de tal forma que se torna, como dizia o caro Eça, "uma maçada" prosseguir a leitura.
São sempre as mesmas coincidências mirabolantes, as aventuras ingênuas, as personagens irreais. Ao mesmo tempo, um quê sombrio e romanticamente triste vaga alguns capítulos, como se fosse um rastro de "Os miseráveis" em páginas alheias.
Honestamente, eu não perderia meu tempo lendo mais de 500 páginas para conhecer esse drama parisiense. Legal, talvez, literariamente muito importante, sem dúvida. Mas acho que esse livro é datado demais. Hoje, seria "uma maçada".

sábado, 18 de julho de 2009

"Os irmãos Karamázov"- Fiódor Dostoiévski-V.2

Tal é a proporção dessa obra, que se torna difícil falar dela. Dostoiévski parece contagiar o leitor com o desequilíbrio de suas personagens, dando-nos a confusão de suas falas, o turbilhão de suas idéias e seus delírios. O que dizer dos Karamázov? O que dizer do seu meundo, desse pedacinho aldeiota perdido na imensidão russa? A peroração se tornaria excessiva se tentássemos destrinchar, ainda que superficialmente, o grandes temas do livro. Mas como não se emocionar com a leitura? Como não viver o conflito moral-erudito-acadêmico-religioso de Iván o irmão do meio? Como deixar de sorrir com a ternura cândida de Aliócha? E como abandonar Mítia sem sentir por ele compaixão, sem sofrer seus dramas, sem nutrir-lhe a um só tempo raiva e amor? A todo momento queremos ver nossas personagens, sacudi-las, falar-lhes, espancar-lhes. Os Karamázov são nossos filhos, nossos maridos, nossos irmãos. Através deles vemos um mundo que nos é inteiramente estranho mas impressionantemente nosso. Amei Cátia e Grucha, amei-as por Iván e Dmitri, seus amantes. Amei a Cristo e ao stárietz por Aliócha. Amei a Rússia por todos eles. Sobre o que será que Dostoiévski queria nos falar? Talvez ninguém nunca venha a saber. O caso da vila russa poderia ser relatado num jornal, como noticia. Mas ele nos é apresentado num requinte assutadoramente humano, terrivelmente real. Sobre quem é a obra? Mítia? Iván? Aliócha? Ou sobre todos nós? Não sei responder. E prefiro que assim seja. Por hora, agradeço por permanecer febril desse fascinante mundo.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Literatura e povos

Estava pensando aqui com meus botões e decidi escrever esse pequeno ensaio. Como sempre, não tenho pretensão de fazer às vezes de crítica literária, mas vou deixar minhas reflexões pra vocês pensarem junto comigo também...
Já falei aqui de Dostoiévski e Górki, o que deixa bastante claro que gosto de literatura russa. Li alguns livros e textos de autores contemporâneos e também do Chekov e do Tolstói. Não tive tempo de comentar tudo aqui, mas percebi uma coisa bastante interessante: os textos literários russos são, em geral, bastante...sombrios. Existem alguns elementos que de alguma formam sempre rasgam as páginas dos livros da Rússia, aparecendo mais ou menos conforme a história. O leitor parece ter a impressão de conviver com personagens bastante carregados, sofridos, densos e reina uma atmosfera social um tanto quanto cinza. Ao mesmo tempo, os indícios do misticismo mesclado à religiosidade são claros. Há ícones misturados com simpatias, rituais ortodoxos junto à bruxarias populares, tudo numa harmonia inquieta mas coerente.
Em nenhuma outra literatura com que tive contato (a saber, a inglesa, a francesa, a portuguesa e a brasileira) essas constantes, esss marcas do povo, parecem estar tão firmes, tão nítidas e bem delineadas. É como se as obras russas fossem esponjas mais capazes de absorver os traços do homem russo e seus problemas com muito mais facilidade.
Claro, literatura não se faz isolada do contexto. É evidente que mesmo em obras de total ficção maluca a gente consegue encontrar um ou outro traço do povo da época. Mas o que me espanta nos russos é que isso é muito mais nítido, muito mais visível...
E eu presumo que isso seja resultado da grande força com que a História pressionou o povo russo: governos mal-sucedidos, guerras e disputas territoriais, grande mistura étnica que muitas vezes não foi bem recebida e uma revolução impactante devem ter marcado bastante a Rússia. A literatura deve ter sentido o peso de uma História tão forte.

 
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